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O antídoto interno contra a depressão

por Filipe Aguiar Dutra
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Depressão, o mal do século. Quem nunca sentiu, no mínimo tem alguém próximo que eventualmente mergulha nessa situação. Não precisamos de muita definição do que é este estado, mas basicamente é uma tristeza acompanhada de uma angústia, como se estivéssemos caindo ad eternum num abismo. Sempre à espera de do impacto, na tensão de quem está prestes a se espatifar em mil pedaços no chão. Acontece que o chão nunca chega, e esse é o problema. Ficamos caindo por dias, meses, décadas...

Entrando em mais detalhes, o estado depressivo se instala quando permitimos que algum evento desagradável tenha o status de ser o responsável pelo nosso fim. É como se quiséssemos desistir de encarar a vida por ela ter batido muito forte. Interpretamos como insuportável alguma frustração, e quando não podemos suportar, caímos no tal do abismo em direção ao “fim”.  Vale frisar que não importa qual situação seja, mas sim a interpretação que fazemos dela. Desde o filho adolescente sair com amigos e voltar de madrugada até a guerra na Síria, qualquer situação pode ser interpretada como insuportável.

Para o veneno do desespero, existe um antídoto interno extremamente poderoso: O sentimento de Gratidão. Este sentimento aparece quando conseguimos perceber dádivas, presentes ou situações agradáveis que a vida nos traz. Quanto maior a percepção destas bênçãos, maior o sentimento de gratidão. Veja, quanto maior a percepção, e não quanto maior a quantidade de presentes que você recebe diariamente. Isso significa que este sentimento está muito mais relacionado com perceber aquilo que você já tem do que com estar constantemente sendo atendido em todos os seus desejos. O grande equívoco daquele que se deprime é acreditar que nunca mais poderá ser grato, já que a vida se recusa a dar aquilo que falta. Esta visão está totalmente voltada para fora, para a peça que ainda falta para completar o quebra-cabeça. Esquecemos de que há centenas de peças já encaixadas.

Por que os Mestres são tão felizes, tão realizados? Não é que eles tenham algo que nós não temos, alguma bênção especial que os meros mortais não possuem. O que os difere é a capacidade de perceber o quanto a vida dá. Estes se regozijam pelo simples fato de respirar, ou de comer uma fruta saborosa dada gratuitamente pela natureza. Eles desenvolveram suficiente humildade para não se angustiarem com o que ainda falta conquistar, mas sim de celebrar o quanto já foi conquistado até aqui.

Chegamos finalmente à atitude que permitirá o sentimento de gratidão se desenvolver. Humildade. A gratidão só surge para quem possui humildade. E só pode ser humilde quem tem maturidade suficiente para entender como a vida funciona de fato, e não apenas como gostaríamos. Crianças não são humildes porque não são maduras. Elas ficam tristes por não terem ganhado o patinete motorizado, mesmo tendo ganhado dezenas de outros presentes em seu aniversário. Elas ficam irritadas porque o colega está brincando com o brinquedo que ela queria, e não veem que existe uma caixa cheia de outros brinquedos. Humildade é aceitar a vida nos termos dela mesma, e isso traz grande satisfação para quem arrisca render-se à ela.

Encare as situações nos termos que a vida traz. O abismo não é real. Ninguém se desintegrará pelo fato de encontrarmos frustrações em nosso cotidiano. Não existem frustrações insuportáveis de fato.  Nunca haverá um chão no qual você vai bater e quebrar. Por não haver chão, você não está caindo, e sim flutuando.

 

Filipe Aguiar Dutra – Psicólogo clínico formado pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-graduando na Metodologia Pathwork  de Transformação Pessoal.




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